segunda-feira, novembro 22, 2010

Balhana.



- Agora que recebi este dinheiro, escusas de vir com coisas que vou comprar uma mobília de quarto nova. Ando à anos para comprar uma e tu arranjaste sempre desculpas mas este agora é meu e vou fazer com ele o que quiser.

- Olha, estás com coisas mas digo-te já: podes fazer o que quiseres com o dinheiro e até podes comprar uma mobília nova mas, e repara bem no que te vou dizer, neste quarto é que ela não entra. Isso é que era bom. Foi aqui que aprendeste o que era um homem, foi aqui que engravidaste dos nossos filhos, que estiveste doente, foi neste quarto que os pariste e, ouve bem, é nesta cama que vais morrer. Tu e eu. Por isso, não quero cá outra coisa.

E foi isto que ele me disse. A primeira coisa romântica em anos. Ele nem percebeu, e eu, apesar de ser aos gritos, fiquei quase a chorar.

Fotografia: Thierry Le Gouès

quinta-feira, novembro 18, 2010

Slides (retrato da cidade branca)


Onde estão os meus amigos?
Remotas memórias
Saltitam
Pululam
Cheiros / odores / miragens
O café
O sorriso
Olá como está!
E outras encenações
A novidade
A vizinha do 3º fugiu, amanhã vem no jornal

Ai..a imperial da Munique
Os destemidos tremoços
Moços, maçons
Canalha / navalha
Pensa coração
Amigos onde estais?

A sueca com minis à mistura
O relato da bola
A malha / copo de 3
A feira do relógio
O relógio da feira
Sandes de couratos / vinhos de Torres
Jogging de Marvila

Domingo
Especialmente domingo
Barbeados / dentes lavados
E martinis no plástico labrego
Alumínio / moderno / kitch / mau gosto
12 cordas / mãozinhas
Salteadores da razão perdida
Perdidos / enjaulados
Correio da manhã
O cú da vizinha do 9ºB
Regalo para a vista
Suplemento a cores com salários em atraso

E a Lisnave / petroquímica
Cancros do meu Tejo
Apodrecendo lentamente o azul das águas
E eu impotente / cinemascope / 35 milímetros de mim
A raiva afogada entre cubaslibres e pernas de mulheres
Que não são putas nem são falsas nem são nada
São pernas de mulheres e cubaslibres simplesmente

Paga-se a saudade com cartão de crédito

Táxi
Leva-me para onde está o meu amor
Táxi
Leva-me para lá de mim
Táxi
Atropela-me os sentidos e a alma para não deixar vestígios

Viriato Ventura, aliás Napoleão Mira, aliás o pai do Sam the Kid, aliás Samuel Mira

Fotografia: Thierry Le Gouès

segunda-feira, novembro 15, 2010

Levei muita porrada. Por tudo e por nada o meu marido batia-me. A minha história parece a história que toda a gente espera deste tipo.

Salvatore Ferragamo Womens Varina Heel Black

Bebia e chegava a casa com a mesma disposição constantemente: pegar por isto e por aquilo - podia ser um esfregão por arrumar ou a falta de vinho fresco. Uma vez quis mandar-me da varanda mas agarrei-me com tanta força que no dia a seguir tinha os pulsos da grossura dos pés da mesa da sala. Depois desse dia decidi que não deixaria que me matasse fosse como fosse. Deitava as crianças às sete porque ele chegava por volta das oito e eu não queria que elas ouvissem a cegada do dia. O mais velho pedia-me para não ir tão cedo para a cama porque o pai gritava e ele ficava nervoso. Expliquei-lhe que os gritos eram por causa do Sporting que jogava e que o pai vibrava com a bola.

Quando éramos novos e pouco havia para comer, ele fechava os seus restos privilegiados numa gaveta, à chave. Quando se reformou recebeu dinheiro da fábrica e pensou que estava rico. Talvez pela forma como me tratou a vida toda, pensou que eu morreria primeiro. Depois da indemnização andava feliz e certa vez comentou: deixa minha mulher que eu ainda vou fazer bom uso deste dinheiro. Tenho pena que estejas tão acabada e que não possas aproveitar também, mas não faz mal. Se calhar até é melhor assim, não fosses tu gastá-lo mais do que devias como sempre fizeste. Morreu de repente três dias depois de fazer esta conversa.

Às vezes levava porrada e passada uma hora estávamos a fazer amor. Nunca o deixei porque adorava-o.

O dinheiro serviu para ajudar os filhos quando foi preciso. Ainda tenho algum que serve para passear e comprar coisas que me fazem lembrá-lo mais à tourada que seria se fosse vivo.

sexta-feira, outubro 22, 2010

François Boucher


François Boucher - Leda e o sisne, 1740.

No século XVIII era assim o repouso dalgumas raparigas e a cabeça do grande pintor.

terça-feira, setembro 28, 2010

I’m bed, who’s bed?

Gosto da cama por fazer. Assim parece que andas aqui por casa. Antes de voltares vou fazê-la à pressa, não vás tu não perceber o desarrumo como compensação.

terça-feira, setembro 21, 2010

Ir ao tapete.

segunda-feira, setembro 13, 2010

You know who I am.



Classe.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Compromissos publicitários.

quinta-feira, agosto 26, 2010

Quanto baste.

Gostava de fazer amor com ele e de conseguir sentir o cheiro leve dos temperos do jantar nos seus dedos. E gostava de pensar que a cumplicidade era uma coisa fraca comparada com aquela fome.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Bendita água.


A Perrier e a sede e o amor e as experiências. Um site que é uma mansão, com Dita Von Tesse.

segunda-feira, agosto 16, 2010

Depois das férias.


Cyperus papyrus

O mato toma conta de tudo e este blogue mais parece um quintal sem os cuidados devidos.

Bem, é começar por uma ponta, a limpeza.

quarta-feira, julho 28, 2010

Obra prima.



Tanto tempo ausente e vir aqui por isto. Só pode valer a pena, pensam os leitores e bem.

The Top - Francis and the Lights

segunda-feira, julho 26, 2010

És bonita?

Os velhos são todos iguais.

quinta-feira, maio 27, 2010

The End.

Quero ir lá para a frente, para ao pé das letras, para ver como se vê de lá. Anda, vamos os dois.

Nunca fiques na primeira fila, daqui não se consegue alcançar tudo.

Gosto de estar aqui porque ninguém disse que não se podia. Agora estão a olhar como se não pudesse. Embora. Nunca te esqueças – aqui à frente não.

Traz o balde das pipocas que a senhora não é nossa criada.

P.S. Este blogue não está a acabar. Penso até que é capaz de estar a acordar outra vez.
Não é certinho como o destino, daí o fascínio.



Salvador Dali e Walt Disney, uma mistura que ninguém desconfia.

quarta-feira, março 31, 2010

Mãe dixit:
Acho mal empregado o tempo em que estou a dormir. É porque não estou a ver coisas e isso.

sexta-feira, março 26, 2010

É matemático.

terça-feira, março 09, 2010

Nunca se saberá.



Pareço um Cristo - acho que podias pôr-me ao peito. Para balançar perto do teu coração ou sossegar na tua pele adocicada pela tarde.

É curiosa esta dualidade, ora coração ora mamas. O que muda não está em ti, está na minha cabeça e nas circunstâncias do que me apetece, ou preciso.

E as velhas que põem fotos sépia do marido nos fios? Achas que é para estarem perto do tal órgão ou do delírio?

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Buro Destruct.

Pedem-te uma certidão de nascimento, como se a tua presença fosse uma miragem ou um contacto com o sobrenatural.

Compreendo.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Até amanhã.

Podia haver um fado que tinha a mãe no hospital (mãezinha se fosse dos bons).

E se fosse o meu - que eu sei disso - e por isso posso escrever?

Ter a mãe no hospital não é como nas histórias da especialidade. Há lá uma calma e uma sapiência no ar que me escapam. Há coisas fortes que não se vêm - umas vezes porque não se mexem, outras porque andam escondidas dentro de cada um.

Disseram-me que ia ficar assim a dormir até amanhã e que a máquina – essa sim parecida com as da televisão – era só para vigilância.

Amanhã é que é. O tempo que passei deu para imaginar uma cor mais longe da terra para as paredes.

Não quero a simpatia das enfermeiras nem as toalhas lavadas com afinco. Quero as coisas do costume.