segunda-feira, fevereiro 28, 2005

No meu tempo é que era.

Vem-me à cabeça a emoção que senti quando vi a minha primeira bicicleta. Lembro-me também de um balão que soltei sem querer numa feira de Vila Franca e de vê-lo subir tão alto que quase tocou a minha angústia. Recordo-me, como se fosse ontem a primeira vez que saí à noite.

Não preciso de me lembrar que talvez não volte a sentir emoções como as que vivi, quando tudo era uma questão de tudo ou nada.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Sei que te Amo mais,

sempre que estás só contigo.

Depois da minha boca,



Permitam-me agora olhar para a frente.

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

A boca.

Desculpa-me.



O que sei não ser capaz de dizer. Ainda assim, perdoa-me a tentativa, a ousadia, a leveza e o descaramento. Absolve-me a imprudência, a leviandade e, se calhar, até a baixeza.

Nunca vou esquecer aquela nossa noite em que nos beijámos. Tudo se resumiu às bocas. Foi lá que tudo começou e foi lá que acabei por sentir, no meio do delírio, o mundo parar quando as tuas pernas finalmente cederam. Os teus joelhos estreitaram-me a respiração e a alma. O teu corpo e o resto da minha vida abraçaram-me ali e nunca mais.

Um dia vou agradecer-te por teres gasto de um trago toda a alegria que me foi reservada à nascença.

Fotografia: Time Warner

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Vago.



A idade trouxe-me muitas coisas boas e uma borracha que vai apagando os porquês. Começa a fazer sentido amar-te porque sim e perder-te porque sim também.

Os dias são cordelinhos de civilização que me mantêm desocupado de ti.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Até amanhã, quer nós queiramos, quer não.

Levanto-me mais cedo e descubro que a luz do princípio dos dias é igual à do final. As sombras e o amarelo tépido que tudo interna espantam a noite que passou. Os pássaros e as vozes dos mercados apregoam a manhã.

Outros pássaros e os silêncios do cansaço vendem a tarde pela melhor oferta.

Assim se repete, sempre e sempre da mesma forma, excepto para quem perde por atraso ou falta de comparência.

domingo, fevereiro 20, 2005

Qual a mais universal das vozes?

A do choro ou a das gargalhadas?

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Nós e um destes dias.



A ganância de te provar mistura-se com a leveza das flores da tua roupa. Arranco-me da banalidade imbuído do teu cheiro. O que resta cá dentro é uma azáfama selvagem. Hienas lutam entre si, coveiras de uma leoa cansada. As suas gargalhadas ecoam em cada poro baralhado e dado de novo. As mãos sufocam-se no circo e na perfeição.

Há sangue a levantar fervura e bocas a morder. Há olhos fechados em pequenas mortes e ventres que não se cansam.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Simples como tudo.



Não quero falar dos outros, não quero andar na moda nem comida japonesa. Dispenso um carro maior ou impressionar os vizinhos, não quero ser rico nem mais informação do que a que preciso, jamais irei para uma praia pior só porque está vazia.

As únicas coisas que nunca me chegam são: os livros, o céu, o Amor e a presença das pessoas de quem gosto.

Quero exactamente o que tenho.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Sorrir.

verbo intransitivo
· rir um pouco;

· rir com moderação, sem fazer ruído;

· apresentar aspecto agradável;

· agradar;

· aprazer;

· prometer;

verbo transitivoexprimir, sorrindo;

(Do lat. subridére, «id.»)

Só quem já foi iluminado pelo teu é que sabe o que é de verdade. Uma constelação que me embala pelos sonhos abaixo, imparável, como os gritos que empurram o triciclo para dentro da infância afortunada.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Medida original.

A falta de tempo faz com que todos os relógios me irritem. Todos menos este

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Amor de fragmentação.



Os dias de uns são as noites de outros. Os Amores doutros são as ruínas de terceiros. As lágrimas que correm agora serão amanhadas por breves sorrisos depois.

Mais do que corações, há vidas que se estilhaçam para dar lugar a rebentos que nascem em alguém mais verde. Os desertos são os mesmos, apenas mudam de peito.

Lembro-me hoje de todos os destroços nos olhos de quem ouve um Adeus. Lembro-me hoje de todos os que abriram alçapões de bombardeiros pesados sobre o queixo trémulo de quem não pode fugir.

A separação, essa nobre instituição que une duas pessoas para sempre.

Feliz dia para todos os ex-namorados.

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Águas Paradas.



O Amor que tenho não cabe aqui. As palavras prontas não saem. O delírio selvagem das nossas bocas não vai nem vem. O tempo irrequieto escalda-me nas mãos.

Estou parado, como o Inverno. À espera do vento, como uma bandeira lavada, passada e guardada na gaveta do imediato.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

E se fosse hoje outro dia?



Daqueles em que sei que nos vamos encontrar? Daqueles em que até as músicas românticas-lamechas-estilo-Bryan-Ferry me soam melhores e em que a roupa condiz melhor com os olhos?

E se fosse outro? Outro sonho, ou outro homem, ou o teu? E se te telefonasse e dissesse nada mais do que o que sinto? E se fossemos passear com as decisões acertadas?

E se fizéssemos Amor? O que seria nosso?

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Canções de Amor e devoção.



Apesar de não ser a especialidade da casa, cá vai uma humilde opinião. O disco California de Perry Blake é para ser ouvido com o coração. Com o nosso e, com sorte, com outro.

Guardo imagens que nem a terra há de comer.

As vezes que te vejo nunca serão suficientes. Tento, em cada uma, demorar-me o mais possível. Olho sem parar para o que vou perder, ou nunca ganhar.

Faço um esforço para pestanejar menos vezes. Ardem-me os olhos e o coração. Baralho as lágrimas de desgosto com as da insistência.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Enresinado.



Um tronco de pinheiro com uma ferida. Um espelho da alma aqui mesmo. Coisas que correm: seiva, sangue ou lágrimas, tantas faz. O Amor plantado num golpe de azar que nos derruba os sonhos.

Vivemos no conforto dos ferimentos que nos ajudam. Precisamos da navalha que corta as mordeduras envenenadas, da saudade que nos punça o vazio das horas sós, da agulha que nos extrai os espinhos e as falhas.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Desejo, saudade e riso.

Descubro, em muitas palavras que troco, a moda, e o grau de convicção com que esta se veste. Quando estou sozinho lembro-me de que em termos de confiança e indumentária nada se compara à forma natural com que vestes as meias.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

É uma frustração do tamanho de um orfanato.



Tenho que fingir que a tua boca não foi assim tão dulcíssima e que afinal a tua respiração não era ciclónica. Tenho que me convencer que o que carrego no peito não são brasas. Acreditar que a tua língua já não me encerra nos sonhos.

E acima de tudo tenho que me amarrar, cada vez que me lembro que também tu derivas numa vida que julgas ser a certa.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Apotegma.



A paixão não é uma mentira mas é uma verdade esfarrapada.