terça-feira, agosto 31, 2004

Axioma de Amor.


Como a morte, o Amor tem sempre desculpa.

Amor em dieta.


O Estranho amor continua a travessia das letras. Só no dia 12 é que a internet chega à casa nova. Até lá, prova de fogo só com textos.

Vai-me salvando este Macintosh, muito bom para direcção de arte mas rudimentar para internet. Computador de publicitário, é o que dá.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Ser ou não ser Amor.

Ando a ler Romeu e Julieta de Shakespeare. Apesar de já ter lido outras obras do autor, só agora decidi tomar uma das maiores histórias de amor jamais escritas, segundo os entendidos em literatura (penso que os entendidos em Amor poderão ter outra opinião).

Sendo uma falta grave para quem se propõe escrever sobre o tema, como é o caso, resta-me partilhar coisas que por lá se dizem:

- A Lua é invejosa;
- Quem se ri das cicatrizes é porque nunca provou o sabor das feridas;
- Não vale a pena procurar quem não quer ser encontrado;

sexta-feira, agosto 27, 2004

Eram dois para a plateia do Amor, se faz favor.

A minha história acabou no dia em que combinámos não ser um do outro. O pano caiu no mesmo chão para onde atirámos as toalhas.

Passo agora pelo palco para te tentar arrumar aos poucos. Luzes, pó e um piano já tapado. Sorrio com quase todos os bilhetes por vender. Sento-me na primeira fila a imaginar como me viste, será que choraste ou riste?

Um dia hei de arranjar maneira de fazer chover aqui dentro. Reponho sozinho o dia em que morremos de pé.

Depois, vendo este sonho e vou-me embora.

Fim.

quinta-feira, agosto 26, 2004

Entra. O Amor é teu.

Não há aqui nada a mais. Cuidado, vem por aqui e não pises o que ainda te amo. Tens que perceber, mesmo depois deste tempo todo, ainda não tive tempo de arrumar o que despi.

quarta-feira, agosto 25, 2004

Amor revisitado.

Olho para dentro e vejo sítios que não conheço. Encontro outros que não me lembrava que aqui ou ali estavam.

Amor atrás da orelha.

Um dia vou apanhar todas as palavras que disse desde que nasci. Junto-as dentro de um barril velho e ponho-o a rebolar por uma rua abaixo até se desfazer numa parede de mercearia.

E a rir, fujo para não ser apanhado. Quem quiser que as leve, arrume ou varra para a valeta. Depois, estou uns tempos sem passar por ali, não vá alguém ter visto.

terça-feira, agosto 24, 2004

Amor emboscado.

A vontade vive traindo-me. Julgo que não nasceu comigo. Deve ter sido trazida com o cueiro pela parteira sorridente.

Já aprendi a lidar com a sua matreirice. Sento-me com uma música e espero que, com a ganância da mágoa, me traga as imagens que me restam dos teus olhos fechados.

Só espero que um dia vingues esta corrosão de alma.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Amor inseguro contra roubo.

Ontem roubaram o “O Grito” e “Madonna” de Munch em Oslo. Os nossos sonhos estão agora menos ilustrados.

O Estranho Amor, numa espécie de acção de protesto e solidariedade involuntária, comunica:

por razões técnicas alheias à inteligentzia deste blog, a colocação de imagens está suspensa temporariamente. O Amor cego segue dentro de momentos.

Amor, só ida.

É insuportável saber que a tua vida decorre paralela à minha sem nunca lhe tocar. As duas parecem os carris de um expresso desorientado.

Sei que as nossas agulhas nunca se vão acertar.

Chegámos atrasados à vida que mesmo sem estar reservada era a nossa. Com uma passagem sem volta.

sexta-feira, agosto 20, 2004

Amor dita dor.

Nem o tempo nem a distância mínima de segurança negociada, serenam a tua falha. Os beijos de amizade encarceram com empenho nipónico os seus homónimos loucos.

Sorrisos com motins assanhados por dentro.

E nós, directores do que não temos coragem de viver, de vergasta atrás das botas de cano alto, a comandar os tais das bochechas, estúpidos de orgulho, a evitar que a loucura deslize para a boca.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Amor – Livro de Pantagruel, página 779.

- Porque é que fechamos os olhos quando nos beijamos?

- Se calhar vem daquela brincadeira das guloseimas, o abre-a-boca-e-fecha-os-olhos.

- És capaz de ter razão. Mas eu referia-me aos beijinhos.

- Beijinhos, boa! Alguns eram cor-de-rosa e também haviam brancos. E lembras-te das línguas de gato?

- Como a tua.

Amor carente.

A mordaça cai aqui, como a aba do teu casaco quando te voltas depois do beijo que desejo não ser o último.

As férias, as pausas e as quebras não me servem. Só os arrebates de amor têm licença para me importunar a vida que vou tentando e que me tenta.

Gosto dos rostos de sempre que, só por si, me parecem diários imprecisos todos os dias.

Foi tanta a falta que me fez escrever estes dias sem palavras.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Amor derradeiro.

O Estranho Amor vai descansar. Não definitivamente, mas por uma semana e uns dias. Além das férias, a mudança de casa obriga-me a desligar a máquina que o sustém. Na casa nova, por enquanto, ainda não se fala de Internet. Nada que não se resolva brevemente.

Para que nada vos falte nestes dias quentes:

Little Black Spot
Classe Média

quinta-feira, agosto 05, 2004

A única imagem do Amor.



Se o Amor não for bom é porque não foi feito suficientemente perto. 
Na frase de Robert Capa a palavra Amor dava lugar a fotografia.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Amor jacente.


Gosto dos rostos das estátuas, sempre coerentes com a vida que não conseguem viver. De pedra que nunca se cansa da rotina. Felizes por durarem mais do que quem as criou. Batem os passos de quem passa em castelos de cartas de amor.

terça-feira, agosto 03, 2004

Previsão do estado do Amor para amanhã.



Nem o virtuosismo do que me fazes sonhar rouba o céu cinzento. Ao contrário dos restos de nuvem, este há muito que adquiriu o peso do cimento.

Só a noite o transfigura. De cinza para preto, como a tenra viúva. Como ela, é belíssimo e mais injusto por isso.

Mudanças de Amor.

- E estas molduras todas aqui na parede?

- Vão já neste caixote.

- Cuidado para não partires nenhuma. Já reparaste que guardam bocadinhos de vida?

- É verdade. E anormalmente felizes.

domingo, agosto 01, 2004

Beija-me muito, Amor .




Mais uma fábula violenta que nos faz melhor: Kiss me, Kiss me, Kiss me dos The Cure.
Crónico desde 1987, data da sua edição. É uma das coisas que salvava da minha casa em chamas.

Amor absolvido.

Não quero conhecer mais sítios do que os que já visitei, o dinheiro que ganho basta-me, não preciso de uma casa maior nem de um carro mais económico. Conheço as pessoas suficientes e o meu médico diz que estou num estado bastante sólido.

Ainda assim, falta-me tanto.

O teu amor é dado como inimputável nestas paragens.