sexta-feira, janeiro 30, 2004

Camarote de Amor.

Observo-te, sentado numa muralha que me protege de mim próprio. Agora sei que nunca beijei ninguém. Percebo que tenho andado toda a vida a treinar para esta hora que te trouxe. Tudo o que conheço apresenta-se com rodeios.

Conheci amores que vejo agora terem sido um equívoco. Uns afáveis desperdícios que me deram muito menos que só um dos teus sorrisos.

De manhã, se reparares, tudo paira entre os teus lençóis ainda mornos e o meu desejo de um dia estar na tua pele.

Sei que Deus vai sempre espreitar o arranque dos teus dias. E sorri.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Amor onde é realmente importante.

Num aniversário em casa de um amigo, o seu pai confidencia-me:

- A pior coisa que aconteceu a Portugal foi o 25 de Abril.

- Sim?! Porque é que diz isso?

- Porque isto estava mal e quem o fez só aproveitou o que de pior havia antes.

- E a conquista da liberdade?

- Para que é que isso serviu? Olhe, na fábrica onde trabalhava, estava eu a assistir a um plenário quando um dos intervenientes se saiu com esta:

“Camaradas, temos finalmente uma sociedade sem classes” – 2 minutos de vivas e ovações – “Viva a classe operária”.

Para que saiba, saí logo daquela multinacional de estupidez e fui para casa a pensar na minha vizinha que tinha um peito avantajado. Pelo menos mantinha-me distraído.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Amor procura-se.

Musa inspiradora, com alguma experiência, que saiba beijar a grandeza que se lhe vai deparando. Não precisa de saber a lida das vozes caladas pelo espanto e pelas letras arrumadas em verso.

Basta ficar na quietude de quem conta com ela para o júbilo que nunca será de quem a ama.

terça-feira, janeiro 27, 2004

Encontrou-se Amor.

Perdido. Vestia qualquer coisa que a minha atenção dispensou em detrimento do primeiro olhar. Uma invasão tomou-me de assalto os movimentos. Primeiro os voluntários, como os que vêm dos olhos ou os que vão para o coração. Como um veneno que não ofende, senti o torpor duma paixão a transbordar.

Tamanha a colhida, que nem sei o que fazer com esta gema que me vai delapidando a razão.

É grande a recompensa para quem consegue provar a vida de quem nos a dá.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Amor ao vivo.

O som do que nunca me tocaste.

Amor contundido.

O que me vai no peito entorna-se à minha volta. O ar que me cerca derrama-se constantemente em chuva, lágrimas ou suor destemperado. Umas mãos, a mando das tuas, apertam-me como quem força uma mala a transbordar de sonhos incompletos.

Amor muito junto.

Quando era mais novo visitava regularmente um lugar que era um pouco de paraíso na minha terra. Um pequeno lago, com 3 metros de diâmetro ladeado por um bebedouro de gado e 3 sobreiros muito inclinados pelo vento.

O lago era guardado por todas as ervas e flores que as ciências reconhecem. Pequenos peixes às cores, rãs e pássaros sedentos davam vida ao que na altura me parecia natural.

Não sei se ainda existe. Ia lá sonhar e enterrar desavenças de namoro.

Deus tinha tocado ali sem se aperceber. Era no sopé da Serra do Montejunto. Hoje, aqui de Lisboa, fecho os olhos e, às vezes, ainda lá vou enterrar um desgosto ou rever o que alguém me deu sem saber.

sábado, janeiro 24, 2004

Amor, 4:30 AM.

Sonhar. Contigo e contudo de olhos bem abertos.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

Amor voador.

Passei de manhã pelo saco de plástico do filme American Beauty. Esvoaçava num passeio em Entre Campos. Cheio de um vazio que o elevava aleatoriamente. Nós às vezes também temos que nos esvaziar do funesto para voltarmos a encher os dias de sol.

Amor imprevisto com canela e açúcar s.f.f.

Tantas vezes o cântaro vai à fonte e é raro partir-se. Às vezes esquecemo-nos daquilo a que se chama “os imponderáveis”

Para o caso, um imponderável desejado. São estes que nos sorriem no espanto e nos espantam na saudade.

Troco de bom grado, uma falha matinal na bateria do carro e uma revista esgotada, por um encontro com quem sonho nos Pasteis de Belém.

quinta-feira, janeiro 22, 2004

Amor perfeito III.

”Perfect day” de Lou Reed ecoa nas prateleiras vazias. Como uma premonição, sujeito-me a sorrisos passageiros e a perfumes com a leveza de quem sai de um elevador pela manhã.

Nada como aproveitar-te para selar os caixotes de desagrado. Valer-me das tuas palavras de ontem para espantar o bom diabo no corpo que há de vir.

Agora não. Depois.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Amor knock out.

Hoje foi um dia mau. Uma daquelas pequenas mortes que nos arrasam de vez em quando abateu-se deste lado do céu. Do tapete, tento levantar-me agarrando os elásticos que se esquivam. A perna direita e a mente torcida. Um sorriso de embriaguez e a toalha exausta a voar.

Resta-me a enfermaria do tempo, que a esta hora já trata o olho escuro e a clara desilusão.

Amor a dar ouvidos.

Escolho uma música que traga alguma paz. A tranquilidade que procuro não serve para calar o que corre perdido dentro de mim. Tento apenas voltar a ouvir-me como era antes de ti.

Troco as músicas e só os desassossegos se revezam. Há muito que o meu descanso passou a acompanhar os teus paços. Encontro-o no eco do que me contas.

terça-feira, janeiro 20, 2004

Palavra de Amor.

Não é feliz quem ama. É feliz quem pode dizer amo-te e receber um sorriso de uma vida que se ganhou.

É feliz quem consegue soltar a paixão, espécie de foguete de artifício, que alguém lhe criou sem querer de propósito.

É assim quem guarda as promessas que fez na alma de outrem.

segunda-feira, janeiro 19, 2004

Amor em encadernação de luxo.

Cada vez que nos despedimos é como se acabasse de ler um livro. O encanto, a surpresa e o virar da última palavra ficam como que suspensos e há uma sensação de perda, leve mas rigorosa.

O sorriso que era de júbilo no último capítulo passa a uma contra-capa de conformação.

domingo, janeiro 18, 2004

Amor digno de registo.

São notas que me soltas ao ouvido e que inebriam. Notas em que descrevo num caderno os tons do teu cabelo. Estas nunca serão suficientes para comprar a Lua. São notas que chumbam tudo o que julgava aprendido ou esquecido.

São tantas as vezes que gostava de saber se notas em mim.

sábado, janeiro 17, 2004

Amor em estado alfa.

Os lençóis que te protegiam na infância não me deixam entrar. Invejo o que leste e que repousa agora também contigo.

De noite as tuas horas são lacónicas. Os sonhos vão-te ilustrando o sorriso involuntário e acabam pela manhã, quando os meus começam.

Boas noites a ver-te entregue ao sono que me roubaste.

Amor contrafeito.

O que conto passou-se com um grande amigo meu. Mais uma prova de que a realidade é mais fascinante que a ficção.

O senhor aproxima-se e diz que tem aqui um material de primeiríssima categoria. Carteiras e relógios magicam à sua frente. Tudo em pele de genuíno, diz.

- Pele de quê?

- De Genuíno. Olhe aqui na bracelete: “Genuine Leather”

sexta-feira, janeiro 16, 2004

French Amor.

Yann Tiersen – C’Était Ici Disco 1 - Faixa 9: Le Moulin: ouço e só não choro porque me envergonho de não te ter aqui para poder dizer que é de alegria.

Amor devidamente comentado.

Como podem constatar, a possibilidade de comentar o Amor, estranho ou não, está de regresso. Como em algumas formas de amor, quantos mais melhor.

Combustão de Amor espontâneo.

Lembranças da tua respiração ateiam a fogueira que me consome. Nada extingue as labaredas que me lambem a alma.

Ventos de um destino incerto dissipam o fumo que me cega. Nenhum vagar é suficiente para propagar o que me vai matando de amor aos poucos.

Cinzas do que julgava certo espalham-se agora pelo adro da minha vida.

Amor de intriga.

Conversa à hora do almoço entre dois sexagenários, no Maravilhas (a tasca em frente à agência):

- O João Soares? Esse até é Bastardo.

- Bastardo!!??

- Sim, sim. Vê lá se te lembras onde é que andava o pai quando ele nasceu.

- Hum,… fugido em França?

- Ora vês! Acertaste.

- Mas ele até tem as bochechas do pai…

- Ele tem umas bochechas mas não são as do pai. São as daquele gajo, do…, daquele que declamava,… do…

- …Do Ary dos Santos?????

- Isso mesmo! Desse.

- Estás maluco? Como??

- Então, naquela altura a Barroso até andava metida nos teatros e nessas coisas assim. E o outro também!

- Porra, nunca tinha pensado nisso!

quinta-feira, janeiro 15, 2004

Amor em boas mãos.

Reparo nas minhas mãos e noto que estão diferentes. Quando era mais novo tinham menos marcas. Eram mais lisas e brilhantes.

Têm um ar usado mas em óptimo estado. São mãos que agarram o que podem para me fazer mais feliz. São dadas ao sonho e à festa.

São as mãos que agarram as tuas. As que tentam percorrer o teu corpo e tocar-te na alma entorpecida. As mesmas que se deviam fechar nas tuas para nunca mais largarem o que me dás.

Envelheceram de repente.

Porque, num punhado de tempo, deste-me toda a felicidade que uma vida leva. Porque quando estou contigo o tempo voa para fora do alcance e elas nunca o seguram.

Contam-se pelos dedos das tuas as vezes que fui feliz.

”E” de Amor.

“E” de Eduarda

Gostava:
- Da sua filha, “a minha Clarinha” e do seu filho “o meu João António”;
- De ter aprendido a ler e escrever quando era nova, agora já não valia a pena e nem sentia a falta;
- Que o marido “o meu Pingalim” estivesse/fosse/vivesse/de-lá-não-viesse/se perdesse no café do Armando.

Não Gostava:
- Que a “minha Clarinha” namorasse com este e com aquele, atitude condenável por a escolha se pautar pelo tamanho do carro do pretendente;
- Das inúmeras maleitas que fustigavam o “meu João António”, várias vezes ao dia durante anos, e que o impediam de ir para a oficina do Torrão alinhar direcções que não eram as dele, (o meu João António originou, em 1987, o primeiro case study da Segurança Social em matéria de “Como transformar uma unha encravada em 365 manhãs dormidas até ao meio-dia, recebendo um cheque, sem saber de onde, mas que sabia que nem ginjas”);
- Que o “meu Pingalim” gritasse insistentemente do sofá “essas putas” referindo-se às suas colegas de trabalho, cada vez que alguma telefonava lá para casa.

No fim:
É uma prima da minha mãe, já viúva e sozinha para seu descanso, e que toda a vida aturou o “meu Pingalim”, homem sifilítico e desequilibrado pelo álcool. Certa vez, o “meu João António” também abalou de casa, envergando somente as cuecas, e atravessou desalmadamente uma ceara que havia nas traseiras com três bombeiros no seu encalço e a bradar “eu sou dos Rangers, eu sou dos Rangers”.

terça-feira, janeiro 13, 2004

Amor num instante.

Ao teu lado cada minuto é uma vida. Cada olhar é um mar revolto aqui e calmo ao longe. Cada pulsação um nascimento prematuro.

Razão que fascina o Amor.

Pergunta ao grande Alfredo Saramago: Qual foi o pior erro da sua vida?
Resposta: Ter aprendido a ler.

Perante isto, permitam-me que vos cite outro grande português, Almada Negreiros, na nota final do seu Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas dos séculos XX e XXI:

Deve ser lido pelo menos duas vezes prós muito inteligentes e d’aqui pra baixo é sempre a dobrar.

Amor a sério.

“O amor é eterno enquanto dura”

Não sei onde nasceu este axioma mas parece um dos mais acertados em relação ao que este blog comporta. Para que saibam, é na paixão que as verdadeiras verdades se dizem.

Fiquem com mais dois, que devem ter vindo de onde veio o primeiro, e que, apesar de não serem novos, também não são menos certos:

“O que hoje é verdade amanhã é mentira”
“Uma mentira repetida muitas vezes transforma-se numa verdade”

domingo, janeiro 11, 2004

Os primeiros paços do Amor.

Existem paços que não devemos esquecer. Gosto do da Ajuda. Aquele onde fica o IPPAR
e o Instituto Português de Museus.

Apesar de tão nobres instituições, é o espaço, a entrada, o jardim, as estátuas, os guardas, a calçada, a porta com o escudo e a vista que lembro.

O que de lá se vê leva-nos para onde gostávamos de estar sempre. Faz-nos sentir como príncipes à espera do que nos faz devotos.

Gosto também do das Necessidades. Tal como o da Ajuda, olha há muito para uma Lisboa invejável e que teima em não aparecer a qualquer um.

Na frente de ambos há jardins generosos para quem ama. Os nomes, “Ajuda” e “Necessidades” foram, com certeza, escolhidos para honrar as lágrimas, gargalhadas e suspiros, (de alegria ou não), que tantos amantes, namoradas, maridos ou filhos de uma esperança imortal por lá passam.

sábado, janeiro 10, 2004

Amor ao Sol.

Só sombras, o que por aqui anda. É uma sombra o que foi ainda há pouco. Os dias empobreceram por nossa culpa. Porque desbaratámos o tesouro sem saber, por querer.

Restam sorrisos.

Saudades é algo proibido mas ganho nesta causa.

Amor de classe.

Gosto do Classe média. Há blogs que deviam ter posts novos de 15 em 15 minutos e nós não deveríamos fazer mais nada a não ser correr os do nosso contentamento. E o Ponto & Vírgula e o Tomara-que-caia não se riam que também estão incluídos.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Amor em alerta laranja.

A urgência e a azáfama plantam sementes de nervosismo. A pressa de juntar o que tem que ser para o que aí vem deixa-me a sonhar. ”Dazzle” dos Siouxie and the Banshees soa-me como sirenes rápidas de um passado que agora começa a reencarnar.

Os violinos e o piano, do tempo em que a música ainda se fazia com cordas, levam-me de olhos fechados até ao que parece ser uma espécie de teu andor.

A tua imagem tenta tragar o que ainda me mantém equilibrado. O flagelo da saudade vai-se arruinar quando os teus lábios me oferecerem a melhor de todas as dádivas.

Vou sair para ir ao teu encontro. O silêncio que aqui deixo é falso.

quinta-feira, janeiro 08, 2004

250g de desculpas s.f.f.

Chego à minha rua, desligo o carro e começo a juntar coisas para sair, fechar e andar. No meio da azáfama reparo que o meu merceeiro estava sentado no carro ao lado, (melhor que o meu), com os afazeres inversos, lojinha acabada de fechar.

Já cá fora, levanto a mão que tinha mais à mão para lhe acenar. Largo a porta que lhe vai bater na dele. Vejo-me obrigado a encetar uma careta de desculpa e de vergonha acanhada.

Ele, já instalado, avia-me um pequeno sorriso a despenalizar e arranca.

Amor extraviado.

Prefiro esperar sem que chegues a vir, do que vires para dizeres que não voltas. Prefiro olhar para a esquina e contar infinitas vezes até 3 para apareceres e nunca me cansar. Prefiro imaginar que não somos donos de nós próprios e que alguém nos mandou por outros caminhos.

Prefiro saber que existes e não te ter, do que rir de quem me contava que não eras um sonho.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Por Amor de Deus V.

Notícia ontem no Telejornal da RTP1: Adeptos benfiquistas não ficaram satisfeitos com o treino realizado.

Este jornalismo ofusca qualquer réstia de discernimento.

Amor a matar o tempo e vice-versa.

O tempo é sagaz e douto. Vai tornando leve o peso da ausência. Vai distraindo o touro enquanto o matador se levanta empoeirado a coxear. Deixa passar alguém estranho que nos prende por momentos. Vai-nos retendo até ouvirmos a música que gostamos quando chegamos a casa. Apaga com um pano húmido os nossos quadros negros. Leva tudo o que dissemos ainda agora. Arruma sem pressa o que está espalhado dentro de nós. Permite que pensemos que o enganamos.

terça-feira, janeiro 06, 2004

The Amor Leaf.

O meu amigo André apareceu ontem lá na agência, (sim sou publicitário como ele), com um disco que é um primor. Uma raridade que não se arranja nem na China, diz ele.

The Album Leaf “One day, I’ll be on time” Vão aqui que encontram.

Belíssimos instrumentais a tomar três vezes ao dia. Sem contra-indicações.

Security area do not cross - Amor - Security area do not cross - Amor.

Não te posso ter mais perto. Deves manter-te aí onde te consiga ver de corpo inteiro. As tuas mãos têm que estar longe da minha ruína. Como um mendigo que rejeita um bife do lombo para evitar o sofrimento da recordação, eu recuso a tua boca.

Os homens que foram teus perderam-se. Jamais esqueceram o fogo que os marcou como se marcam os novilhos bravos. Ao contrário destes, o teu nome incandescente gravou-lhes para sempre a alma e não a carne.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Amor automobilizado.

Gosto de carros velhos, daqueles que nenhuma mulher gosta a não ser que esteja apaixonada pelo dono. Dos que não são clássicos e que estão ainda a cem mil quilómetros de lá chegar.

Penso sempre que os seus donos não têm um melhor porque não querem gastar dinheiro mal gasto e, como tal, reconheço-lhes inteligência, à partida (e à chegada).

Quem tem carros velhos leva sempre o risco na bagageira, ao pé das garrafas vazias de plástico, dos sacos de praia do ano passado, do boné encardido e do pára-sol do Continente.

Na condução, como na paixão, a emoção não é traduzida pelo número de cavalos. É antes dada pela falta de controlo nos que se tem.

domingo, janeiro 04, 2004

”D” de Amor.

“D” de Dário

Gostava:
- Do triciclo tipo cigano-em-início-de-actividade onde entregava as botijas de gás BP;
- Dos filhos quando o ajudavam nalguma entrega a mais de duzentos metros da sua mercearia (isto acontecia apenas 1 a 2 vezes em cada 7 anos);
- De vender melões às metades mesmo quando os clientes queriam levar o fruto todo (as reformas miseráveis de algumas freguesas deram-lhe a oportunidade de iniciar esta forma de comércio criativo).

Não Gostava:
- Que o triciclo não pegasse à primeira nas manhãs de Inverno;
- De não conseguir arrumar as míticas quarenta e sete botijas na caixa do triciclo. Record pessoal consumado várias vezes entre o 5º e o 8º copo de três na taberna do Barroca, (qualquer tentativa fora deste intervalo era escusada);
- De usar o capacete branco com protecção em napa para as orelhas (quando passou a ser obrigatório o seu uso, o chiar das rodas traseiras na descida do Bandarra nunca mais foi o mesmo).

No fim:
É um amigo do meu tio Camilo. Colegas na escola até à 4ª e actuais detentores de vários e inatingíveis recordes pessoais na ingestão de copos de três (dos outros também quando calha). Desde 1973 que não bebe água, facto verídico e comprovado por inúmeros médicos, incapazes de compreender o que o move.

Amor impossível de se aturar.

Um tabuleiro com a mais fina e secreta massa defendida por um pano de linho. Em cima de uma bancada de madeira tosca, em frente à boca de um forno que aquece o ar e o espírito de quem deixa (ou consegue).

A maviosa guloseima nascerá com o tempo certo, que tanto acrescenta à mágica porção de carinho posto.

Há coisas ricas que se escondem por detrás de um véu, mesmo à mão de semear de uma diabrura.

sábado, janeiro 03, 2004

Amor possível.

Tenho um disco que, como outros, pôs uma marca no meu percurso como os velhos vídeos VHS faziam cada vez que iniciávamos uma gravação. Daquelas indeléveis, pelas quais se pode referenciar uma dada altura da vida. Esse disco é o Hôtel Costes by Stéphane Pompougnac.

Após dez promessas, 4 telefonemas, e um banho decidi dar-lhe vida outra vez. Com um tremor de mãos, como um alcoólatra carenciado pela manhã, volto a ver-te. Voltas a dançar, voltas a olhar a Lua, voltas a beijar-me, voltas a voltar a dançar e voltas a ser feliz. Voltas as costas ao que julgavas moribundo e revisitas instantes de fim de adolescência.

Se tivesse sido possível aquela noite ser ainda melhor, esta manhã teria sido ainda mais estrangeira.

sexta-feira, janeiro 02, 2004

Amor dextro.

Há algum tempo comecei a reparar que a vida é feita de muitas coincidências e que isso não pode ser coincidência. Aqui fica uma prova do que não pára de me espantar.

Liguei a televisão e coloquei um disco. Uma imagem de alguém que reconheci como um amigo que não via há milhares de anos deteve-me. Perante mim apresentava-se o anfitrião do “Zecchino D’Oro” ladeado por uma loura tão usada como a 46ª edição do evento, e que nem na mais tenra idade me cativou. Lembrei-me logo dos sapos que uma portuguesa com caracóis serviu numa bandeja de casquinha a todos os outros chorosos concorrentes há séculos.

Neste momento feliz tocavam só para mim os Black Rebel Motorcycle Club o mais do que adequado hino Whatever Happened to My Rock 'N Roll.

Palavras, (ou som original), para quê? Se não me tivesse desviado a tempo ainda tinha dado de caras com o Eládio Clímaco. Cruzes canhoto!