sexta-feira, dezembro 30, 2005

Confirma-se.

A mulher que está no post anterior é a Isabella Rosselini. Sílvia, obrigado pela ajuda.

Prescrição.



Sinto-me como um doente a quem todos querem disfarçar a verdade. Nada do que me rodeia deseja mal. Disfarçam quando pergunto por ti. O espelho que traz os dias volta os sorrisos e as caretas a meu favor, diz para não me cansar e para voltar para a cama.

As ruas, por elas, drogavam-me de boa vontade. O céu diz que já passa e os outros sorriem sem me conhecer.

Gostava de me levantar daqui, de voltar a ver o mar de desperdício. Gostava de provar mais do que este deserto que até pelos pulsos me entra.

Fotografia: David Lynch e uma bela mulher por Helmut Newton.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Algures numa música da PJ Harvey:



You're the only story that I never told
You're my dirty little secret, wanna' keep you so
Come on out, come on over, help me forget
Keep the walls from falling on me, tumbling in
This is love that I'm feeling

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Strange little girl, where are you going?



És esquisita e não sabes a idade certa para te perderes. Vens do campo com o brilho do gelo nos olhos. Tudo te cerca e nada te toca.

És, na nuca, o bafo tépido de uma loba ferida.

Vazas na língua um mar que não há meio de me afogar.

Tu e essa mania de me salvares já irritam.

Fotografia: Helmut Newton

Muito obrigado.

Por isto.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Já passou.



Amparo-me nas coisas mais inesperadas. Na desgraça televisiva dos infelizes ou nas músicas que estavam na nossa moda.

Tenho raízes que há muito não se iluminam, portas que nem eu sei da chave e balhanas numa caixa de sapatos.

Tenho um casaco com um bolso grande do lado do coração que já não me serve.

Precisava tanto de uma boca qualquer que me dissesse coisas que só eu sei ouvir.

P.S. Inicialmente o último parágrafo foi escrito com a palavra “Mãe” em vez de “boca”. Achei que poderiam haver leituras demasiado próximas de uma psicanálise barata e mudei-a.

Fotografia: Helmut Newton

quarta-feira, dezembro 21, 2005

FOGO.



Já pensaste nos homens que morrem em vão? O que pensará um amarrado em frente do pelotão de fuzilamento? Que coisa lhe cerrará os olhos quando ouvir as culatras? Susterá a respiração? Será a infância a fechar-lhe os sonhos?

Será o pânico das palavras que ficaram por dizer que o fazem suar assim?

E em mim. Já pensaste?

Fotografia: Helmut Newton

terça-feira, dezembro 20, 2005

Dobra o polegar e mordisca-lhe a noz devagar.

Lembras-te do que fui?

Demasiada realidade.



Na realidade, eu ficava com o teu cheiro nas unhas e com um sabor a muito na boca. Ficava com o sangue a arder e com alguns músculos mais doridos que outros. Havia uma sede desfigurada e adornos incontroláveis.

Se fosse de verdade era assim. Assim, fica a tua voz rouca que me enche num sopro.

- Tira os pés do chão frio, ainda ficas doente.

- Mais? Mata-me.

A quem fotografou a Angelina Jolie assim, obrigado.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Por favor, perturba-me.



Colecciono quartos. Vazios, de familiares, de hotéis baratos e caros, de quando era adolescente e de quando era ainda mais feliz. Estão desordenados sem ser de propósito, mas bem arrumados. Têm camas onde se amou, leu, riu e morreu. Têm candeeiros que nunca se apagam e marcas no chão.

Têm gente. Mulheres nuas ou crianças a dormir sestas contrariadas. Têm tudo o que seria preciso para te despir. O teu sorriso e o teu corpo sincero, enrolados no principio e descarados no fim.

Fotografia: Henri Cartier Bresson

terça-feira, dezembro 13, 2005

Talvez o romantismo sirva para te sentires menos culpada desta hora que passou.



Onde acaba o romantismo e começa o Amor de verdade? Para quê as músicas lentas se os corações têm vontade de correr?

Arruma a postura e abraça-te a mim com o lábio de baixo meio mordido. Arranja uma desculpa para ti própria, nem que seja a possibilidade da morte mais remota.

- Que brilho é esse nos teus olhos?

- Sou eu que ando à solta dentro de mim.

Fotografia: Getty Images

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Definitivo.



Quero-te como todos os homens querem quem amam. Com a audácia medrosa a corromper a coragem. Ontem vi um filme em que uma mulher disse dos homens: As mulheres ou se possuem ou se deixam. Não há, na verdade, qualquer outro tipo de relação possível.

Olho para nós e não sei em que porta estamos. Numa de entrada era o que eu queria. Sem bater, mas a querer entrar.

Fotografia: Getty Images

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Encontraste-me.



E agora?

Talvez queiras conversar ou saber que tempo vai fazer-me por dentro. Não sei o que dizer e até estou com medo de devorar o saco dos sonhos de uma só vez.

A única coisa que me ocorre é pedir-te que me olhes com o nariz perto do meu e que faças a boca morta.

Fotografia: Getty Images

terça-feira, dezembro 06, 2005

Numa rua, há muito, muito tempo.



Como estará o teu corpo? Lembro-me de te despir devagar e de saber de cor os sinais que a subida do pano me mostrava. Para quem corria como nós as mãos frias eram apenas um insecto moribundo. Havia demasiadas preciosidades naquele espaço, papel de parede da tua avó, lençóis de flanela e coisas que rangiam com a força dos joelhos. Por falar nisso, como estão as promessas que faltam apagar?

Se quisesses saber como me entretenho dizia-te que isto é uma coisa do outro mundo e que a primeira música tem nome de menina.