
Como o anunciado na imprensa, por €46.020 esta cama pode ser sua.
To hell whith small literature
We want something redblooded
E.E.Cummings, 1935
Deve haver preocupação com os adjectivos e com os advérbios. Tem que se estudar a arrumação das palavras muito bem e estender as frases e os parágrafos de forma convincente. Eu não sei, mas preocupo-me muito mais com ideias do que com técnicas. Admiro muito mais um escritor do que um professor. Acho até que quem sabe escrever bem acaba muitas vezes por ser como um treinador de atletismo, que apesar de ensinar a correr muito, corre pouco.
Isto a propósito de ter ouvido na rádio uma poetisa dizer que precisava de fazer uma paragem porque a sua obra estava a ficar muito correcta mas a perder a força.
Fortes são os conteúdos de histórias como aquela em que a minha mãe estava a comer um bolo de arroz e a falar com a Ermelinda Coveira enquanto esta esfregava uma caveira de uma velhota com uma escova e sabão num alguidar.
- Não te faz confusão estares a comer enquanto eu lavo os ossos da Bininha?
- Mais ou menos, a mim faz-me confusão é irmos todos para aí.
As palavras são só palavras, mesmo que se atropelem ou vistam à pressa de vez em quando. O que acartam é que conta.
Fotografia: Thierry Le Gouès
Balhana.
Mas percebo perfeitamente bem quem bebe e quem fuma sem manias ou freios. Quase que os admiro. Quer dizer, não tenho vergonha de beber só de vez em quando ou fumar apenas quando me apetece. Eu nem vergonha tenho de ter utilizado um adjectivo daquele tamanho no título do post anterior. E naquele grau.
Com esta idade começo a perceber que sou uma espécie de moldura de classe média. Limito-me a andar no pelotão e isso não me desagrada. A fama ou a morte seriam bem piores que isto.
Acho até que dava um bom anónimo numa das filas para as câmaras de gás, daqueles que inventavam afazeres de cabeça para não desatar a fugir pela lama. Coisas como procurar ver a mulher e as filhas do outro lado da rede, ainda que magras. Caso as tivesse, é claro.
Ocupa o melhor lugar.
O meu avô ensinou-me a afiar uma faca:
Molha-se a pedra e passa-se a lâmina para cima e para baixo sem pressa. Um lado do gume quando vai acima, o outro lado quando vem para baixo. Depois da pedra de amolar, deve-se usar uma lixa de água, a mais fina que se encontrar. Molha-se a lixa, e passamos a lâmina, não só da mesma forma que na pedra, como também no sentido do corte, como se fossemos cortar a lixa mas com a lâmina quase paralela a esta, depois deste movimento a folha deve estar perfeita. Experimenta-se no polegar esquerdo: a faca está pronta se, sem qualquer pressão, lascar superficialmente a unha. Deve-se sempre avisar quem costuma usá-la.
Para saber se o aço é bom, bafejamos a lâmina e vemos o tempo que a humidade leva a desaparecer. Quanto mais rápido, melhor.
Tenho saudades de aprender. Ensina-me a dançar ou a ler.