terça-feira, setembro 27, 2005

Making of.



Foi assim que se fez. Os elogios e os sonhos. O egoísmo e as tuas palavras. A velocidade a que passaste foi a vertigem que me reformou.

É assim que se faz ou não? Preciso da verdade e de uma boca qualquer. É a inércia que me escalda a língua. É o tempo a passar que quero ganhar.

domingo, setembro 25, 2005

Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me.



Pode amar-se o trabalho? Sim. Se for assim com o álbum dos Cure de fundo, num sítio escuro, com jóias. Com um fotógrafo amigo, com uma das mulheres mais bonitas de Portugal e com o aroma do melhor incenso no ar.

Foi esta semana e é só mais uma das razões pela qual o Estranho Amor tem andado descuidado.

Por vezes, a vida real faz-me muito feliz.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Plátano.



Vêm aí as folhas para o chão e o som das tuas caminhadas de criança. Recordas os cadernos novos, os lápis e as borrachas com cheiro. Lembras-te de te fartares do tempo pouco passado.

Gostavas de ser grande sem perceberes que eras gigante na altura. Pratas de chocolate nos livros e areia do recreio nas botas.

Guardaste aquelas folhas? Olha que o tempo passa e o Outono não demora muito. Traz um saquinho com rugas e solidão.

Agora queres ouvir um amo-te? Dos que desperdiçaste em nova?

sexta-feira, setembro 16, 2005

Combinação.



- Queres almoçar comigo para a semana?

- Quero.

- E se em vez de irmos almoçar mesmo, ficássemos no carro a conversar e a dar os melhores beijos do mundo um ao outro? Na boca, dos antigos que acabavam nas mãos? E que depois nos separavam excitados como alguém novo o suficiente para ter medo? Depois conversávamos outra vez, abraçávamos mais e beijávamos de novo. No fim chorávamos e fim. Nunca há finais felizes.

terça-feira, setembro 13, 2005

Lenda.



Procuro primeiro os defeitos, para depois me deslumbrar com as virtudes. Costumo fazê-lo com as plantas para ver se são verdadeiras ou falsas. Na dúvida, reparo se as folhas têm fendas ou diferenças de cor.

Costuma ser assim com tudo. Até contigo. Ainda hoje procuro nas recordações algum deslize ou falha que me digam que exististe mesmo. Sabes, sinto-me como uma arma que nunca carregaste. Nova, mas com o tempo a picar-lhe a câmara. Escura e ardente.

Fotografia: Getty Images

sexta-feira, setembro 09, 2005

Vento.



Continuo a gostar que me acusem de desleixo. Desde pequeno que esta palavra me lembra o livre arbítrio para a preguiça. Uma espécie de deixa mesmo para amanhã o que podes fazer hoje.

Tenho sempre tanta coisa para fazer, visitar sítios que amo sozinho como eu gosto, ou fechar os olhos para não ver o que me cerca. No fundo é uma espécie de droga, e portanto de prazer, este adiar de pulsações. Atraso a própria vida à espera que alguém se esqueça de me chamar.

Fotografia tirada na ermida de Alcamé. De lá vejo a horta que foi do meu avô, do outro lado do Tejo, terra dos melhores morangos da minha infância. É o sítio onde o meu tio Camilo vai aos caracóis ainda hoje. Lá correm ventos selvagens e cavalos felizes. Desculpem-me, mas sou assim, casmurro até na paixão pela lezíria.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Enjoy the silence.



A vida só pode ser uma paródia. Das grandes, com gargalhadas despropositadas à meia-luz, com sexo, suor e unhas. No meio do fumo, vê bem que hoje até fumo, e da bebida tépida do fim do escuro.

Não sei porque se gosta disto ou de tango. Humilhação pedida por favor. Pedida por Amor de Deus. Lenços bonitos e roupa por sacudir. Deve ser por isto, só pode ser por isto, que as pessoas se apaixonam. O frio passou tão depressa como a noite.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Cara ou coroa?



As duas, por favor. A fazerem-te rainha da perdição. Quem disse que a diferença entre as meninas boas e más era que algumas não eram apanhadas?

Afinal são todas iguais como os homens? Ou será que há demasiado tempo que não me perco? Se soubesses o que faria contigo virias já. A correr, de mão dada com a ceara de secura que me deste. Preciso duma cara para beijar.

Fotografia: Getty Images