sábado, fevereiro 28, 2004

Antes que seja cedo.

São tantos os beijos que ficam por te roubar. Cada palavra tua é um desperdício de pulsação.

Às vezes penso na tua pele marcada pela idade e na beleza estonteante já fatigada. Penso nos anos que são agora e que serão passado nesse futuro. Todos os afagos são agora lisos. Todas as recordações serão pregas de saudade e susto.

Beijar-te-ei agora mesmo.

Será tarde quando me lembrar de não parar.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Humor perfeito.

O chefe pede-me para procurar na internet uma imagem de uma mulher linda, semi-nua, com fato de macaco e pode estar levemente encardida de óleo.

O meu trabalho? Sou publicitário. E gosto. E o que acabei de descrever é a mais pura verdade. E pagam-me. E não é mal.

Às vezes fico demasiado bem humorado para manter este blog.

Perco-me na demora.

Estou sempre à tua espera. Mesmo quando tenho tudo, continuo à tua espera.
Como se não me restasse mais nada a não ser a tua presença ou a tua ausência.
Como se tudo se resumisse ao arrebate de te ver e ao frio medular que me percorre. Sem pressa como se vindo dum pano humedecido na fronte do delírio.

Desde que sei distinguir o bem do mal que aguardo a ambivalência de nenhum dos dois conseguir usar.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Pela tua boca morrem todos os que te cruzam.

INJUSTIÇA
adjectivo

- que não é justo;

- oposto à justiça;

- iníquo;

- desrazoável;

- infundado;

- inexacto;

- inadequado;

substantivo masculino
aquele ou aquilo que não é justo;

(Do lat. injustu-, «id.»)

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

A Ruptura.

A ruptura de tudo o que conhecemos é hoje. Se não for, há de ser amanhã, senão fica para a semana. Ou para depois. Qualquer coisa, qualquer dia há de acontecer. E a partir daí nada mais será como dantes.

Até lá, vivam as músicas que iremos ouvir, os filmes que estão por fazer, vivam as letras dos versos ainda por arrumar e vivam os beijos que iremos dar.

Se calhar, a ruptura és tu e já foste ontem. E hoje e sempre.

E agora?

Matas-me de Amor.

Gosto de ver alguém a brincar com o fogo. Em malabarismos aparentemente seguros, pequenas flamas rodopiam e encandeiam os olhares. Mergulho num pequeno transe: meia pirueta e mortal com saída quase de maca.

As chamas que ateias por debaixo do coração não são de mais. O controlável é assim que se faz. E o outro é assim que começa.

Sinais do teu fumo dizem-me que trazes uma arma por carregar. Munições tenho eu e tu mesmo aqui à mão de semear.

O gatilho embaciado pelo calor do teu indicador.

O fogo incendeia o recato. A brincar.

terça-feira, fevereiro 24, 2004

Amor desmascarado.

Já foi. O fim-de-semana para descanso do sonho de sempre acabou. Bem-vinda realidade que tanta ficção ofereces. Vaza-se o cansaço para logo se encher o peito. O nosso e, com sorte, o de outrem.

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Atmosfera de Amor.

Escolhe uma roupa que não te beneficie. Disfarça a cor verdadeira dos olhos. Calça algo que não te faça mais elegante. Perfuma-te para que eu não possa cheirar a verdade. Disfarça os jeitos naturais do teu cabelo.

Estás perfeita.

A Terra precisa de mim de vez em quando.

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Amor creditado.

Gostava de ter a haver o amor que deves ao resto dos teus dias.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Amor mais que perfeito.

A vida é uma promessa que se cumpre na morte das tuas saudades.

Em Amor vivo.

Tantos, ou todos, morrem por ti. Roubaste às outras um cúmulo de desejo capaz de me ausentar do mundo.

A forma como olhas intimida-me, não de ti, mas do que eu vou ser incapaz de deter.

As respostas que procuro encontram-se na tua boca calada pela minha. E são o céu e o inferno aliados na força deste espanto que um dia te vou contar.

terça-feira, fevereiro 17, 2004

Um mar de Amor.

Não sei por onde começar a amar-te.

Há uma azáfama aqui dentro como na preparação de um confronto entre couraçados.

Silvos, rezas atabalhoadas e minhas mães com lágrimas a jorros ouvem-se à volta do que julgo ainda ser o meu corpo.

O abismo por debaixo dos pés não me intimida. Vou salvar-me, se puder.

Só não sei por onde começar a amar-te.

Serviços secretos de Amor.

Tudo o que nos faria ser gigantes de repente é inacessível. A tua presença toca-me a aflição de não seres minha. Espreito-te pela alma que tornas irrequieta.

Sem nunca te ter beijado, sei que conheço a tua boca como a minha. Olho para a resignação prescrita pelo teu olhar.

Ambos sabemos de mais.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Amor – quarto 417.

Gostava de passear a nossa paixão como fazem as ciganas quando mostram o ouro possível que carregam no peito. Crucifixos e medalhinhas para cegar olhares com sorrisos só para mim.

Rugas deste lençol, ainda agora de lavado, formam o mapa de uma temeridade que parece a morte de tudo o que sabia.

Post sem a palavra “Amor” no título.

Curioso, nem assim consegui. Adoro as rotinas que nunca se repetem.

domingo, fevereiro 15, 2004

Amor leve.

As palavras que nos enliçam são tudo menos claras. Falamos do tempo quando queremos falar do que não temos. Falamos de roupas quando queremos provar a falta das nossas. Falamos de estudos enquanto nos vamos decorando.

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Cais de Amor.

Lembro-me te ver chegar e de pensar na sorte que nunca tinha tido. De te ver sorrir e não acreditar que eras para mim. Decorei-me para sempre com a tua roupa. Tantas nuvens, tanta chuva e aquele dia que me parecia o melhor de todos os que me restavam.

Amor sem lenços de papel.

A maquilhagem só serviu para atenuar a verdadeira beleza do teu rosto. Os teus olhos não gostaram da sombra do desengano. As lágrimas esboroam-te a vaidade e denunciam o que me vai manchando o peito. Os teus cabelos na minha boca dão-me a paz egoísta que te falta.

A braços com os nossos corpos, fico à espera que leias as certezas que te faltam nas palmas das minhas mãos.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Amor em perigo de ignição.

Uma força latente junta-nos. Gosto de ti ao de leve, ainda sem estar apaixonado. Triângulos amarelos com centelhas de alta tensão povoam-nos. A energia alterna, ainda domada, com um falso repouso. Perigo de pequenas mortes vislumbram-se.

A compaixão que tenho por ti faz com que o fulgor seja ainda só meu. Uma vez solto, já nada mais nos valerá.

O que nos espera é um estrondo de desejo. Uma selvajaria a pulsar-nos dentro sem controlo. Ar comprimido, água-ardente, fogo pesado e uma terra que, Deus queira, um dia será a nossa.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Amor sem mais nada.

Foi o que te pedi. O que nunca recebi. Foi passado o tempo e passando o desejo. Com orgulho, a inércia tomou conta de nenhuma ocorrência. Garrafas por abrir, livros por fechar e tanto encanto por arrumar.

Estranha intimidade.

Amor com grão na asa.

Li num documento oficial: “…atingiremos, assim, uma sociedade mais etilizada…”

Trocar elite por etílico é superior. Um verdadeiro erro certo.

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Amor em questão.

Não é uma questão de quantos amaste na vida. É antes a importância do Amor que cada um não foi capaz de te dar.

Não importa o número de beijos dados, mas sim quantos olhos fechados pela perdição te enfrentaram.

Alguns ganharam. Todos se perderam.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Eco de Amor.

Rebekah Del Rio em Llorando - Banda sonora de Mulholland Drive.

Uma noite num teatro cheio de nada e de tanto. Uma voz só. O Amor cantado.

domingo, fevereiro 08, 2004

Amor estafado.

Tomo um pequeno almoço na Pastelaria Alcântara, um sítio cercado por vários locais de perdição nocturna. Vejo um casal vestindo marcas de desporto pouco saudável. A noite passada em exercícios de estilo e de excesso foi tudo menos boa conselheira para estas duas vítimas. Uma discussão ridícula vai subtraindo o brilho dos sapatos e denunciando o dos olhos.

"Por favor, é mais uma garrafa de água e duas parras."

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Amor calado sumariamente.

Nunca te vi conforme devia. As cores que te regam vão ofuscando o que me poderia elucidar. O teu olhar chega e reconforta-me com incertezas. Pergunto onde vou colher tanto do que me passa pelo ruinoso juízo que ainda vais permitindo.

Normal seria os doentes de síncopes e sopros sorrirem como se fosses soberana da graça e da desgraça.

Amor apalavrado.

Pela boca morrem e nascem as evocações. Palavras que não pedimos nem encomendámos são sopradas com sorte. Não são nossas mas somos nós que as guardamos para sempre.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Soletrar o Amor.

A nossa vida vai-se escrevendo com cada uma e com todas as paixões iniciais.

Amor indisciplinado.

Não gostava de perceber que te vou ganhando num descompasso de sorrisos e olhares. Daqui a pouco fico emparedado na secura da tua falta. Teria sido bom que não me tivesses achado o que viste.

Que a nossa falta não se torne numa presença angustiante e assídua. Não arrisques, nem sequer te afoites a voltar a olhar para mim. A tua boca tomará o gosto dulcíssimo do costume, e depois não nos sobejamos.

Eu já sabia, assim que te vi, que nada mais restaria senão rezar para que a química não encontrasse a física.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Bons ventos de Amor.

Afazeres profissionais levaram-me até Madrid. De volta, aproveito para relembrar uma máxima do meu amigo Manuel que vive em sevilha (é o designer gráfico responsável por todo o grafismo da Cavalo de Ferro):

Amor adiado é Amor perdido.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Amor estrategicamente extraviado.

Quantas caixas de juventude ainda te restam? Quantas? Daquelas onde guardaste o primeiro bilhete de emoção estonteante. Das que misturam o mapa do metro de Londres com a lata duma madeixa cortada pela inocência e pelo sonho.

Postais com corações encarnados misturados com cartas do liceu nunca lidas pelo pai com faltas da mesma cor.

domingo, fevereiro 01, 2004

Amor revisitado.

Dostoievsky disse que “Nada há de mais belo e que mais fortaleça a vida do que uma recordação pura.”

As recordações aparecem sem aviso e acompanhadas de sentimentos passados. Batem-nos e entram direitas a espiolhar as gavetas onde guardamos os lenços, por exemplo.

O tempo vai retirando-lhes os acessórios para que fiquem despidas de tudo menos do que importa repassar.

Adoro quando alguém aparece e me devolve o passado, limpo e polido. Na altura em que era presente muito me distraía. Agora, nada me tira o que vou guardando nas minhas sete quintas.

Amor cinzento.

Reparo com alguma tristeza, que grande parte das pessoas que se cruzam comigo em fatos de executivo, deviam carregar um cartaz “Will work for love”