quarta-feira, janeiro 31, 2007

Por conseguinte, o despertador é um grande inimigo.



Gosto muito de me ir deitar. De largar os chinelos e as ralações. De me sentar na cama, saber que amanhã é de dia mas que até lá vou viajar sabe Deus e Freud, confundo sempre os dois, por onde.

Mesmo que não adormeça logo, ou que dê mais voltas do que queria, o que aí vem merece a pena. Há noites que são só preto, nem uma imagem ou voz. Há outras que são uma canseira com cataclismos e monstros, muitas vezes touros bravos (fruto provável de ser ribatejano). Todas são o que espero.

E quando estou vai não vai para ir, deixo de sentir as pernas. Imagino um doente conformado.

Sei que as noites são todas boas. Sei que até os carrascos e os fiscais dormem, se calhar a esta hora.

Sei que isto é uma preparação. Esta madorna, este escuro e a leveza de nem sentir nada só podem ser um treino. Esta ausência deve ser um segredo para ir ficando descansado, para não espantar e até conhecer a morte quando aqui estiver.

Fotografia: Thierry Le Gouès

terça-feira, janeiro 30, 2007

Yeah! Oh, Yeah!



The Magnetic Fields

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Família.



Numa entrevista ao escritor António Alçada Baptista, descubro mais uma razão, talvez a maior e a mais verdadeira, para as alterações da instituição família nestes tempos. Dantes as coisas corriam bem, as mulheres cozinhavam e os homens falavam na sala, connosco aos saltos para cá e para lá, havia arroz de coelho aos Domingos e passeios ao Alentejo de vez em quando. Também se jogava às cartas, os grandes com as quarenta e nós com os dezes.

O fim da família acontece quando se começou a casar por Amor.

Dantes o casamento era um verdadeiro acordo, contrato sem resolução, e às vezes até combinado pelos pais. Nada falhava nem podia, filhos, netos, casas cheias, de alegria umas vezes, outras de autoridade viril.

Não sei se era bom ou mau. Sei que funcionava daquela maneira. Hoje, as casas de uma nota só e os filhos coxos, ou de amparo repartido, também fazem por funcionar.

Fotografia: National Geographic

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Desvirginar.

Nas diversas formas de nunca mais voltarmos a ser o que fomos, lembro-me da primeira vez que vi uma cena de sexo explícito. Foi em casa de um amigo por volta dos sete anos através desse portento que era a revista Gina. Percebi que aquilo ia mudar a minha vida de forma leve, mas para sempre. Soube rapidamente, como se fosse um reflexo de nascença, que presenciava uma coisa naturalíssima, apesar de ter algo de grotesco e de ridículo em simultâneo (fruto provável da péssima qualidade das fotografias e adereços).

Diversas formas de misticismo, ilegalidade e votos de silêncio foram passados pelo fiel depositário, ainda que só por instantes, daquele tesouro. Pareceram-me na altura e só muito mais tarde, exageradas.

A Gina é um promontório na minha vida e isso dá vontade de rir, como tantos outros vistos a esta distância.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A história dos dois amantes que não gostavam de fazer Amor.
A história do homem feliz.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Pela boca morre a saudade.



Há-de haver a última de todas as lágrimas, o suspiro que trancará os teus pulmões e o derradeiro eco dos teus dentes a encaixar. Até o último dos cabelos, que tão bem trataste quando eras nova, vai cair, como um véu, da tua caveira.

Até lá, fico com o beijo inaugural dos dias, os salpicos do Verão e as recordações. As que estes bons momentos me levam. Lembro-me, por exemplo, da mão leitosa do meu pai na véspera de morrer, com as unhas cruas como as de um bebé, e os dedos dobrados em cima de uma toalhinha. Nunca esquecerei a toalhinha que tanto conforto me dava por saber do descanso que estaria prestes a enxugar.

Mas esta é daquelas lembranças que a tua boca me leva.

Fotografia: Thierry Le Gouès

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Eu hoje acordei assim... ©



Cancion Del Mariachi – Antonio Banderas & Los Lobos.

Com ganas.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Agent in charge.


Gong Li - Miami Vice, 2006

- Isto é má ideia.

- Pensava que já tinhamos passado essa fase.

- E não tem futuro.

- Pois não.

- Então não há nada que nos possa preocupar.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Inteligência Real.



Interesso-me por cidades e exércitos, por rainhas e guerreiras. Por sacrifícios e conquistas, por castigos e penas pesadas como a morte. Por traidores e intrusos, por expansões e subterrâneos.

Interesso-me por coisas que existem no meu canteiro, formigas, por exemplo.

Fotografia: David Lachapelle

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Living Bastard.



Love Kills – Freddie Mercury – 1984

Este tema faz parte de uma colectânea de rock inspirada no filme Metropolis de Fritz Lang (1927). Este é um estranho caso de uma obra-prima - o filme, misturado com outra que não sei como classificar - a canção, numa década que, em matéria de gosto, deu-nos bons ténis.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Dá-me 2 centímetros.



Parece estúpido mas é isso mesmo que eu quero. Não, não é de tempo que preciso, o que eu quero mesmo é a medida: 2 centímetros. Achas estranho? Porquê? Não tarda começas a fazer piadas sobre a importância das grandezas.

E olha que anseio por isto como um desgraçado pelo que atordoa o vício. Sou capaz de mentir se for preciso. Parece estúpido mas até este suspense me deixa as pernas desassossegadas.

Não é que faça alguma coisa, os cães debaixo de uma mesa de jantar também ficam só ali, a ver e a chorar à sua maneira.

O decote, falo do decote.

Fotografia: Thierry Le Goués

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Balla me Deus.



O fim da luta – Balla.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Estou dividido,

e agora ando por aqui também.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Ponto de cruz.



Baralho-me com o Amor e com a atracção. Abraço-te pelo primeiro e não me arrependo da segunda. Só quero ter-te aqui ao pé, mas isso não me tira da cabeça a tua cintura. O teu peito esmaga-me o coração e o juízo sem sair do mesmo sítio.

Não me faças perguntas que vocês mulheres percebem mais disto do que eu. Saltas do romantismo para o meu corpo com a suavidade de uma agulha. Felizmente.

Fotografia: Thierry Le Gouès
Perform such devotion.



(isto é o que estão a pensar e, já que estamos com espírito consumista, pode animar qualquer jogo de quarto por 1600 Euros)

Começar 2007 com classe, muita classe. Cuidado com o que vão encontrar por aqui.